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A viagem no mundo dos chás


terramundi - 20 de maio de 2020 - 0 comments

A primeira vez que estive numa plantação de chá foi em Hatton, região montanhosa do Sri Lanka. Foi por acaso. Meu conhecimento sobre a bebida se resumia em colocar uma erva dentro de uma chaleira, apreciar a serenidade do momento e aquecer mente e corpo.

Ali, aprendi que tudo o que eu chamava de chá era, na verdade, infusão (ou tisana) – camomila, hortelã, boldo, cidreira, hibisco… Aprendi que o verdadeiro chá é proveniente de uma única planta, a Camellia sinensis. E que, dependendo dos diferentes métodos de cultivo, manuseio e processamento, são produzidos os seis tipos de chás que conhecemos: chá branco, verde, amarelo, oolong, preto e Pu’er.

A partir dessa experiência, minha curiosidade aumentou. Passei a estudar sobre o assunto, me tornei sommelier de chá e percebi que a bebida me trazia mais que sensações físicas. Me contava histórias. Desde sua descoberta na Ásia, o chá viaja o mundo e por onde passa ganha uma nova adaptação.

O melhor masala chai da Índia, numa barraquinha no meio da estrada

Chá na índia: chai masala

Foto: Fabiana Roque

Em outra experiência com chás, estive na Índia. A viagem de ônibus entre Bangalore e Ooty, no sul do país, foi longa e tortuosa. Durante uma das paradas fui acordada por uma amiga suíça: você precisa experimentar esse chai!

Desci do ônibus, olhei a barraquinha e franzi a testa. A presença e o sorriso do “wallah chai” (como são chamados os vendedores que servem o chá preto, fervido com especiarias, açúcar e leite) extraíram todas as dúvidas de minha mente e me entreguei a mais doce surpresa da viagem.

Chá com geleia, uma gostosa combinação

Chá com geléia no Azerbaijão.

Foto: Taylise Fernandes

Nos países da ex-União Soviética, a bebida representa hospitalidade e é oferecida com compotas caseiras numa mesa posta de forma impecável, com copos de vidro pequenos em formato de pera para garantir a temperatura da bebida. No Azerbaijão, murabbas (como são chamadas as geleias) de cereja, ameixa e damasco são espalhadas em delicados potinhos de porcelanas e servidas para proporcionar conforto e relaxamento aos convidados.

No meio de um deserto, chá

Chá - beduínos Jordânia

Foto: Feynan Ecolodge

Foi durante uma caminhada de 14km na região considerada como o maior programa de preservação natural com desenvolvimento social do Oriente Médio, a Reserva da Biosfera Dana, na Jordânia, que tive o encantamento de cruzar com uma senhora beduína e seu rebanho. A vi de longe – era um pontinho preto que foi se aproximando e quando me dei conta, estava ali, utilizando os recursos da natureza para fazer pão. Nos ofereceu um pedaço, trocamos olhares e seguimos caminhos opostos.

Mais à frente, o guia que me acompanhava escolheu a sombra de uma árvore para fazer o preparo do chá verde com folhas de menta, servido três vezes como manda a tradição, e a cada infusão, um sabor: o primeiro copo é suave como a vida; o segundo, forte como o amor; o terceiro, amargo como a morte.

Nesses dias de quarentena, sigo viajando por meio dos chás que adquiri em minhas viagens – a maneira que encontrei de me conectar de maneira íntima com as culturas que conheci.

Relato de Fabiana Roque.

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