Concisão, simplicidade e coração. Essas três características definem a essência da poesia japonesa, chamada Haikai, e, por sua vez, traduzem elementos bastante conhecidos da cultura do Japão. É por meio dos versos rápidos e profundos, da temática natural e afetuosa e pelo envolvimento dos leitores que se manifestam traços de uma nação com características tão vívidas.
Cultura em versos
Esse tipo de poema deve assumir uma forma específica – o que evidencia a disciplina e o regramento japoneses. Em caracteres japoneses, são feitos em uma única linha vertical. Em português, a construção assume três versos rápidos, com cinco, sete e cinco sílabas, respectivamente.
A concisão e objetividade é, portanto, essencial na criação. A arte que preza pelo necessário e pela clareza, assim como seu povo.
No entanto, para construir um Haikai é preciso ir além dos três versos corriqueiros. Acredita-se que essa poesia deve conter, além da forma, o corte e o kigo.
O corte se trata do conteúdo. É chamado kire, a característica que exige profundidade na escrita. Para os japoneses, cada verso deve gerar uma imagem mental. E, quando colocadas em sequência, relacionam-se e tornem o haikai explicativo, mas nem sempre explícito.
É preciso que as partes, ainda que curtas, tenham sentido completo e deixem a conclusão por conta do leitor.
O kigo, por sua vez, se relaciona a dois elementos básicos do poema: a permanência, como forma de condição geral, e a transformação, como forma de percepção momentânea.
O kigo, em sua tradução, é palavra da estação, e indica a necessidade de mencionar um termo que se refira à passagem das estações – evidenciado a forte relação com a natureza.
A essência do Haikai
Originado no século XVII, a arte da poesia haikai se enraixa na renga, uma manifestação literária do Japão. É também um reflexo dos pensamentos da filosofia budista. Ganhou o nome pela combinação do significado de duas palavras: hai, que significa gracejo, e kai, a harmonia.
Os versos curtos expressam a sensibilidade oriental e o cuidado com a reação e o envolvimento de quem acessa essa arte. Não à toa, é chamado de poesia incompleta por incitar que o leitor termine o texto com o próprio coração.
É a arte de dizer muito, mas com o mínimo de palavras. É captar um momento em que o simples da natureza subitamente revela a sua força e a lógica da vida.