“De um caçador, me tornei ambientalista”. É assim que André Thuronyi, proprietário do Araras Lodge e combatente dos incêndios que deixaram o Pantanal em chamas em 2020, define sua trajetória no ecoturismo do Brasil. Há mais de 40 anos envolvido com viagens na natureza da região amazônica e do Pantanal, passou a compreender os ciclos do mundo animal e vegetal a fundo. “Hoje, as pessoas vêm conhecer a natureza, mas não para se aprofundar em uma aventura”, afirma. Para ele, a busca dos viajantes por áreas ao ar livre hoje em dia se dá pela carência de contato com esses espaços no dia-a-dia.
Eu comecei [trabalhando] com o conceito de expedições, fiz coisas muito incríveis. Naquela época [década de 1970] havia a necessidade de ser um pouco mais audacioso, um pouco mais experiente, com sabedoria de campo”, acredita. Há 30 anos na região do Pantanal, foi esse olhar atento e cuidadoso de quem compreende o bioma que fez André se preparar e combater as queimadas que acometeram a região em 2020.
André Thuronyi.
Pantanal em chamas
Para ele, o período foi uma experiência muito forte a nível emocional e também a nível físico. O Pantanal a maior planície alagável do mundo – ou seja, quando chove no planalto ao entorno (Rio de Janeiro ou Cuiabá), a água desce para a planície e acaba alagando a região. “Estava escrito que o fogo ia vir. As cheias de 2019 e 2020 foram muito menores que nos anos anteriores. Depois nós tivemos 6 meses de seca”, conta André.
Os incêndios no bioma não são tão raros, mas costumam acontecer em meados de setembro e em proporções muito menores. “[Em 2020] O fogo começou a correr aqui em agosto. Dentro dos meus limites e das minhas possibilidades, eu tinha preparado uma brigada”. A equipe de voluntários que auxiliou André nesse período contava com um trator com lâmina, tanque de 5 mil litros, moto bomba, outro tanque de mil litros assentado em uma caminhonete com motobomba, assopradores de 600 cilindradas, abafador e EPIs para – tudo comprado por André.
“Fiz tudo dentro da previsão, do que eu aprendi ao longo dos anos para me preparar pra uma situação dessa. Eu sabia que isso ia acontecer – mas nunca imaginei que nessas proporções. A gente imagina aquilo que conhece. E eu nunca conheci um fogo desse. Na nossa mente de pantaneiro, não existia um incendia nessa proporção”, conta.
O Pantanal em chamas ardia com o fogo que caminhava de 3 formas: de frente, como todo mundo conhece; aéreo, quando são lançadas centelhas que podem viajar de 10 a 25 metros; e de maneira subterrânea, pelas raízes e matéria seca acumulada. Você achava que tinha vencido, abandonava a posição e quando via já havia fogo novamente lá”, narra André. “Era frustrante”.
Após as queimadas
O bioma perdeu muita flora, fauna e algumas estruturas. Depois do controle dos incêndios, André e a equipe do Araras Lodge buscaram dar força aos animais que ficaram à margem do Pantanal em chamas. “Distribuímos cocho ao longo da transpantaneira, colocando água pros animais. As verduras que venciam, o pessoal de mercado mandava pra gente e aí distribuíamos”.
Ainda hoje o Pantanal se recupera das chamas que atingiram a região – e, desse processo, André espera que haja uma reflexão. “Por que isso está acontecendo? Por que tão poucas pessoas fizeram o que eu fiz frente a algo que estava anunciado?”.
“A visita dos brasileiros é também uma ajuda e incentivo para nós, após um ano desafiador de pandemia e incêndios. Para que a gente possa sobreviver, manter os empregos, manter as organizações vivas, fazendo esse trabalho de conservação e confraternização com vocês”, acredita.
Turismo sustentável
A Terramundi acredita que o turismo, quando exercido de forma responsável, é um importante instrumento de orientação, sensibilização e preservação. E, assim, selecionamos parceiros locais que possuem visão e cuidado semelhantes aos nossos.
