Perto do Coração Selvagem

Em contato com a produção literária assinada pelo navegador brasileiro Amyr Klink, em que documenta as maravilhas e os desafios de suas explorações marítimas, é inevitável intuir que desafiar de fato a natureza não é ir contra ela. É se adequar a seus movimentos e encontrar uma forma sinergética e inteligente de estar ali, selvagem e livre como ela. Por mais que as condições sejam adversas e sempre imprevisíveis.

 

creators_1

 

Com uma trajetória respeitável, percorrida por mais de 250 mil milhas, Amyr parece ter desenvolvido um faro intuitivo que o faz encontrar rapidamente as soluções mais criativas para suas viagens. Seus sonhos têm um nível de complexidade prática acima do normal e para realizá-los é preciso envolvimento integral.

É ele que antes de embarcar estuda da engenharia à astronomia e pesquisa o fluxo dos rios submersos, as poderosas correntes oceânicas usadas a seu favor. Sua história é marcada por buscas e ideias que podem parecer absurdas, mas que apontam para realizações extraordinárias.

 

creators_3

 

É preciso ser louco ou sábio para alcançar o sucesso, dizem, e Amyr se garante apostando alto em ser tudo o que é. Assim, mais do que um mito e seus feitos heroicos, ele é um criador de realidades, mecanismos e estruturas. Um homem conectado com os recursos materiais possíveis e adepto do que chama de “engenharia da necessidade”.

Também entra no seu vocabulário técnico-filosófico a “democratização dos esforços”, assim como ideias sobre o não desperdício e a preservação ambiental. Tecnologias simples e eficientes aplicadas em projetos de vida longa em alto-mar sempre fizeram sentido. “Não é que a gente viaja, a gente constrói os meios para viajar, e a preocupação com o impacto, o desperdício também é muito grande”, conta Amyr.

Hoje, existe um enorme esforço em criar caminhos mais saudáveis para o mundo que, urgentemente, precisa de cuidados. Novas soluções de baixo impacto já saíram do papel, e saem a todo momento. Encontramos cada vez mais projetos com essas preocupações e a serviço da construção de um equilíbrio maior entre o homem e o meio ambiente.

Agora, temos o poder de definir uma nova relação com o mundo e a chance de viver essa integração com liberdade e conhecimento. Habitar o planeta nesse contexto é praticar uma empatia vertical com a natureza para além de admirá-la e registrá-la.

Seguindo essa lógica, iniciativas por todo o mundo se destacam pela relevância e inovação apoiadas em tecnologia limpa, design inteligente e negócios justos. Na Patagônia chilena, o EcoCamp é um exemplo disso. Um ecolodge de luxo no coração do Parque Nacional Torres del Paine, que vem transformando o seu entorno há mais de 15 anos.

Durante o último outono, o comandante esteve neste cenário composto também pela arquitetura dos domos geodésicos – característica única do EcoCamp e construção que Amyr conhece bem e curiosamente vem desenvolvendo em São Paulo. Foram dez dias. Cada um deles tingido com infinitas tonalidades de céu.

 

creators_4

 

Hospedado nas estruturas que garantem baixo impacto no solo patagônico e alta eficiência em conforto e funcionalidade, a integração com a natureza e a paisagem do parque foi intensa e imersiva. “Ficar no EcoCamp se assemelha muito à experiência de encontrar um bom ancoradouro numa baía grande. A gente fica como se fosse baseado no barco que está com os cabos seguros nas pedras, nas árvores, bem fundilhado, para aguentar as variações de tempo. Onde você tem o refúgio no final do dia. Um banho quente”, diz Amyr.

O projeto idealizado por Javier Lopez, Yerko Ivelic e Nani Astorga – dois engenheiros e uma ambientalista – tem influenciado visitantes e a vida local, protegendo paisagens e ecossistemas delicados. Estabelecendo encontros viscerais com a natureza quando, especialmente, inserem seus domos aos pés das Torres.

 

creators_5

 

“As estruturas geodésicas são uma espécie de ícone do conceito de eficiência, de simplicidade, de fazer mais com menos, de mobilidade. Eu gosto da sua beleza funcional, do design quando ele vai chegando na essência da função”, completa o navegador.

Quem conhece a Patagônia ou já ouviu falar sabe da fama de seus ventos e da variação de temperatura em curto espaço de tempo. Sua dinâmica atmosférica é impetuosa. Mexe com os sentidos do corpo como se quisesse impor sua potência para nunca ser esquecida. No meio disso tudo, Amyr ancorou. Seguro, com o mínimo de impacto e o máximo de profundidade. Sobre esse território, com o olhar para o futuro que nos identifica com Amyr, revelamos uma viagem peculiar à Patagônia, uma das paisagens mais interessantes do mundo.

 

Texto Lila Guimarães  |  Fotos Victor Affaro  |  Produção The Upper Air 

 

INSPIRADO PELO QUE LEU?

FAÇA ESSE MESMO ROTEIRO!

DÊ O PRIMEIRO PASSO AQUI!

Você também vai gostar