Na Patagônia sem fim

Quando a vocação é a liberdade todo canto do mundo fica logo ali. Não importa a distância ou como chegar. Há ainda aqueles lugares que causam por muito tempo um certo magnetismo até que se cumpra com ele um ou muitos outros encontros. Como se uma parte da vida devesse ser passada exatamente ali.

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Sustentando a raíz de uma profunda atração pelas paisagens patagônicas, está uma fase sólida da história do navegador Amyr Klink. Ela começa aproximadamente nos anos 70, quando aqui no Brasil pouco se falava sobre a região. Naquela época, as referências que nutriam o imaginário de Amyr vinham dos relatos de seu pai, um “viajante maluco que ia para lugares extremos”, nas palavras do prórpio navegador.

Leituras sobre as viagens audaciosas do lendário marinheiro e escritor Joshua Slocum também alimentaram suas ideias sobre a Patagônia, desde a infância. Joshua foi o primeiro navegador a fazer uma volta ao mundo em solitário, num barco pesqueiro de pequeno porte modificado por ele mesmo.

Foram mais de três anos no mar que renderam o precioso recheio do seu segundo livro, o Sailing Alone Around the World (Sozinho ao Redor do Mundo, no Brasil), publicado em 1.900. “A parte mais emocionante do livro é quando ele atravessa os canais patagônicos, a Terra do Fogo, os povos Alacalufes, e o medo que ele tinha dos ataques”, nos contou Amyr.

 

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De fato, ali perto, o Estreito de Magalhães, canal entre o Chile e a Argentina que liga o Atlântico e o Pacífico, parece não ter sido tão receptivo com o barquinho de Joshua. O estreito é famoso por seus ventos impetuosos e um clima especialmente hostil para a navegação. De acordo com os escritos de Joshua, a embarcação sobreviveu à região mas foi, mais uma vez, submetida às engenharias do navegador.

Todo esse caldo de vida a bordo e as soluções numa época sem tencologia, que levaram Joshua para os lugares mais remotos do mundo, subjetivamente, sedimentaram os projetos de Amyr com o território patagônico.

“Muitos anos se passaram até que eu pudesse de fato andar pela Patagônia”. Isso aconteceu durante uma viagem de moto pela América do Sul e assim foi o seu primeiro encontro no plano da realidade com a Patagônia. “Uma região fascinante por ser inóspita e ter uma natureza contundente com montanhas impressionantes, ventos impressionantes, alternâncias das estações no mesmo dia, a história dos índios que habitaram essa região fria”.

 

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Ainda nos anos 70, com cinco amigos num ônibus velho, saindo de Las Cuevas, na Argentina, fugiu de um acidente que fechou a estrada pelo Sul da Cordilheira dos Andes, o que na verdade foi uma desculpa pra revisitar a Patagônia. “Aí ficou o vírus, como o vírus que morde quem desce pra Antártica. Acho que o vírus patagônico é mais resistente, porque é uma região que você pode ceder por terra, pode vir de ônibus, de barco, por meios convencionais”.

Pelo extremo sul do Chile e da Argentina, territórios que definem a extensão patagônica, Amyr passou incontáveis vezes. Do Ushuaia, na Argentina, também partiu para muitas de suas mais de quarenta expedições à Antártica. Com amigos, a família ou sozinho.

Agora, o reencontro foi com a região chilena, no Parque Nacional Torres del Paine, por onde sumiu na solidão do seu imenso maciço, entre montanhas e vales percorridos por trilhas e rotas em terra firme. Do frio ao silêncio interrompido pelos ventos uivantes, das memórias que guardam aquelas paisagens até os novos ângulos captados por seus olhos apaixonados, tudo ainda assim parecia natural e familiar. Amyr estava, como sempre, logo ali.

 

Texto Lila Guimarães  |  Fotos Victor Affaro  |  Produção The Upper Air

 

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