Scroll to top

A força sensorial da Patagônia no EcoCamp


terramundi - 10 de dezembro de 2025 - 0 comments

Há lugares no mundo capazes de reorganizar pensamentos, silenciar ruídos internos e devolver ao viajante uma sensação de pertencimento há muito esquecida. A Patagônia chilena é um desses cenários e, em meio ao vento indomável e às montanhas de Torres del Paine, existe um projeto que nasceu exatamente dessa busca por reconexão essencial: o EcoCamp Patagonia.

Considerado o primeiro hotel de cúpulas geodésicas do mundo, o EcoCamp é mais que uma hospedagem; é um manifesto. Um retorno ao simples, ao orgânico, ao que Javier López, engenheiro, caiaquista e cofundador do projeto, chama de sensualidade da natureza.

Gallery slideGallery slideGallery slideGallery slide

O grito primal da Patagônia

A história do EcoCamp começa com um mergulho. Nas águas geladas da Patagônia, Javier sentiu que algo profundo, quase ancestral, despertava. Ali, envolto pela imensidão, percebeu que o ser humano contemporâneo havia se afastado dos elementos mais básicos da vida natural: o vento, o frio, o cheiro das coisas, os diferentes estados do corpo diante do ambiente.

“Quando seu corpo inteiro está na água, você realmente está dentro da experiência”, lembra ele. “Nós somos natureza. Somos orgânicos. Precisamos dessa biologia.”

Desse insight nasceu um conceito inovador para a época: criar um ecolodge que honrasse o território, minimizasse impacto e facilitasse a imersão do viajante na paisagem patagônica.

 

Inspiração indígena e arquitetura ancestral

Javier, ao lado do engenheiro Yerko Ivelic e da ambientalista Nani Astorga, buscou inspiração nos Kawésqar, também conhecidos como Alacalufes, povos nômades que habitavam a região desde o século XV. Suas moradias de madeira formavam estruturas semicirculares, leves, fáceis de montar e desmontar sem deixar rastros. Pequenos “domos” que se integravam ao ambiente.

O círculo nos leva à origem”, diz Javier. “É a forma da terra, dos astros; a maneira mais pura de nos conectar ao universo.”

O EcoCamp adotou essa geometria não apenas como homenagem, mas como filosofia: minimizar impactos, honrar o território e colocar o ser humano novamente em diálogo com a natureza.

 

Viver a Patagônia de forma natural

A proposta do EcoCamp é clara: quem chega até ali não encontra apenas conforto, encontra significado.

Sim, os domos são aquecidos, têm água quente e oferecem uma acolhida ideal após dias intensos de trekking. Mas nada disso substitui a experiência que realmente transforma: ouvir a força do vento mesmo de dentro da habitação; ver a lua permanecer no céu ao amanhecer; deixar que as estrelas iluminem o quarto à noite; sentir que a casa conversa com o lado de fora, e não o contrário.

Viajar à Patagônia é aceitar um deslocamento da ideia tradicional de conforto. É permitir que a rotina urbana se desfaça aos poucos, abrindo espaço para uma percepção mais crua e sensível do mundo.

Javier chama isso de sensualidade: a possibilidade de viver a natureza com todos os sentidos despertos, de forma íntima, quase visceral.

 

Por que o EcoCamp é tão especial?

Porque ele não tenta domesticar a Patagônia, ele dialoga com ela.

Porque os viajantes não chegam ali para repetir padrões urbanos, chegam para experimentar outra forma de existir.

Porque cada domo, cada trilha, cada silêncio faz parte de um convite maior: voltar a sentir.

E, talvez, é nisso que reside seu poder transformador. No entendimento de que a natureza, quando vivida por inteiro, devolve ao ser humano algo que ele havia perdido: a sensação de ser parte do mundo, e não apenas visitante.

Posts Relacionados