Uma visita à remota vila de artesãs em Choquecancha, no Vale de Lares, marcou para sempre a estilista Flávia Aranha.
Pesquisadora de matérias-primas orgânicas e de técnicas de tingimentos naturais, Flávia já tinha seu olhar voltado para o artesanato e as roupas típicas desde o início da viagem ao Peru.
Mas foi ao interagir com cerca de 10 mulheres que vivem da confecção de tecidos em um povoado isolado a 3.600 metros de altitude que essa jovem paulista viveu o auge da inspiração da viagem.
“É impressionante como o conhecimento tradicional delas tem coisas a ensinar à moda contemporânea”, disse Flávia, emocionada com a troca de ideias e informações com as tecelãs.
A pequena Choquecancha é uma vila habitada por 800 famílias que vivem da agricultura, do pastoreio e do artesanato têxtil, como mostram as três estátuas de trabalhadores locais erguidas na pacata praça central. Despojado, o povoado é uma das paradas do emaranhado de trilhas de montanha abertas pelos incas há mais de cinco séculos.
Em 2014, a Unesco declarou Patrimônio da Humanidade a rede de 30 mil quilômetros que se espalha não só pelo Peru, mas também por mais cinco países.
Choquecancha fica no cênico Vale de Lares, formado por picos nevados, campos de pastagem, cascatas e rios plácidos. Distante da popular rota inca turística no entorno de Machu Picchu, só costuma ser visitada por quem embarca em caminhadas ou viagens de minivan com a Mountain Lodges of Peru.
Ao chegar ao pátio onde as artesãs de Choquecancha costumam se reunir para tecer juntas, Flávia e os outros viajantes do Projeto TERRAMUNDI Creators foram recebidos com uma chuva de pétalas. Trata-se de um costume de boas-vindas realizado em cerimônias familiares como casamentos e batizados.
Ao passar sob um arco de flores montado no portal de acesso à casa, o grupo se viu diante de uma turma de mulheres de roupas coloridas que passou a explicar cada detalhe do seu processo de trabalho. Um dos objetivos dessa iniciativa da TERRAMUNDI Viagens é justamente promover rotas e encontros criativos entre viajantes e anfitriões em lugares cheios de alma.
Flávia manipulou tecidos feitos com lã de alpaca e ajudou a tingir a lã usando chás, raízes e folhas andinas. Tudo sob a condução simpática de Maria Quispe Vetancur, líder da cooperativa.
Adepta de movimentos como o “slow fashion” e a moda sustentável, Flávia Aranha já tinha visitado outras experiências interessantes no Peru para quem se atrai pelo universo têxtil.
A primeira foi em Chancay, a 2h30 de Lima, onde conheceu o projeto Ecotintes, da família Calmet, que tinge naturalmente as coleções da estilista inglesa Vivienne Westwood.
Outra foi no centro têxtil de Awanacancha, perto de Pisac, no Vale Sagrado, um ponto turístico que apresenta técnicas têxteis, cria animais como lhamas e alpacas e ainda possui uma lojinha.
E, por uma dessas coincidências da vida – e que ficam mais surpreendentes nas viagens –, Flávia já tinha conhecido Maria Vetancur, de Choquecancha, dias antes, em um restaurante de Urubamba, sem saber que visitaria sua comunidade depois. “Foi um desses encontros lindos que acontecem nas viagens, e que ganham uma magia especial no Peru”, disse Flávia. “E o melhor é saber que essas conexões vão render bons frutos e muita inspiração para criar.”
Texto Daniel Nunes
Fotos Victor Affaro