A cidade perdida dos incas ganha outra dimensão quando explorada com o guia arqueoastrônomo Andrés Adasme
Arquiteto chileno que adotou o Peru como lar desde 2003, Andrés Adasme Tapia é daqueles guias que podem transformar totalmente a experiência do viajante. Apaixonado por compartilhar seu conhecimento, ele encantou os integrantes do Projeto TERRAMUNDI Creators com seu conhecimento sobre o universo da arqueoastronomia, que estuda sítios arqueológicos com evidências de terem sido laboratórios onde povos pré-históricos buscavam entender os astros do céu.
Foi no início da exploração do Projeto Creators no Vale Sagrado dos Incas, durante uma palestra no auditório do Sol y Luna Lodge Spa, de Urubamba, que Andrés primeiro se apresentou ao grupo. Desfilou os conceitos básicos da arqueoastronomia e sua teoria polêmica sobre Machu Picchu ter características que poderiam levar a crer que ela teria sido construída há mais de 12.000 anos, idade semelhante a de templos antigos da arqueologia como Stonehenge, na Inglaterra, Angkor, no Camboja, e outros tantos no Egito.
Andrés integra o staff da Mountain Lodges of Peru, rede que levou a expedição de criativos aos rincões do Vale do Lares, e já tinha explicado algumas conclusões de suas pesquisas durante alguns trechos da viagem. Em Ollantaytambo, por exemplo, detalhou segredos de ruínas sagradas da cidade que é base para o início da trilha inca clássica.
Ali, perambulou entre ruelas ladeadas por paredes de pedra seculares. Por trás de uma delas estava uma casa original dos incas, repleta de amuletos estranhos – como fetos de lhama – e até com criações de cuys, os porquinhos da Índia, que os descendentes de incas habitantes da casa costumam comer.
Partiu de Ollantaytambo também o trem que Bel Coelho, Bem Gil, Flávia Aranha e Guto Requena pegaram rumo a Águas Calientes, povoado que é passagem obrigatória para quem visita Machu Picchu. O passeio de trem aconteceu no Hiram Bingham, locomotiva de luxo batizada em homenagem ao explorador que descobriu a cidade perdida dos incas.
Luxuoso, o trem serve refeição, bons vinhos, ensina os passageiros do bar a fazer um típico pisco sour peruano e embala a jornada com boa música ao vivo. Do lado de fora das janelas, as montanhas andinas ladeiam rios caudalosos e povoados pacatos do Vale Sagrado dos Incas.
Após o pernoite confortável no hotel Inkaterra de Águas Calientes, o grupo acordou cedo para bem aproveitar o destino mais aguardado da viagem. Machu Picchu recebeu os brasileiros com o céu espetacular das 6 horas da manhã, permitindo que as nuvens em dispersão enchessem os olhos de todos. Quem chega no nascer do sol, antes das hordas de turistas de todo o mundo, sente a magia da Machu Picchu silenciosa – quando parece que o cenário das montanhas imponentes do seu entorno tornam o local realmente sagrado.
Foi então que Andrés Adasme mostrou a que veio. Caminhava para cima e para baixo pelas ruínas, mostrando pontos onde o sol fica perfeitamente alinhado em datas astronomicamente importantes, como as dos solstícios e equinócios. Explicou o funcionamento do relógio do sol e levou os mais animados à chamada Porta do Sol, no ponto mais alto e distante da entrada do parque arqueológico.
Como suas análises muitas vezes destoam do discurso oficial apresentado pela arqueologia tradicional, não foram poucas as vezes que Andrés enfrentou questionamentos até de guias experientes – como Carlos Loayza e Willy Chavez, que também acompanhavam o grupo e já tinham demonstrado vasto conhecimento da história peruana. Carlos estivera em Machu Picchu mais de 100 vezes.
“A arqueoastronomia é um estudo novo que ainda não aparece em muitos livros, por isso sofre resistência de muita gente”, explicou Andrés, que já tinha estado 38 vezes ali.
Ainda que boa parte daquele conhecimento não seja reconhecido pela ciência até agora, as teorias de Andrés Adasme deram outro colorido para a viagem. E fizeram a edição peruana do Projeto TERRAMUNDI Creators terminar como começou: de forma aprofundada, criativa e bem diferente dos roteiros convencionais que as pessoas fazem pelo Peru.
Texto Daniel Nunes
Fotos Victor Affaro